Resenha Literária: O Filho de Mil Homens
O
autor Valter Hugo Mãe, em “O filho de mil
homens”, divide o livro em 20 capítulos e narra diversas histórias que se
cruzam e giram em torno do personagem principal, Crisóstomo. Ele é um homem de
40 anos que sempre desejou ser pai, mas, por seus antigos romances não terem
dado certo, ainda não tinha conseguido realizar essa vontade. No entanto, por
ser um sentimento que sempre esteve presente, passou a procurar um filho
perdido, na própria vila em que morava, para que pudesse cuidar e repassar seus
ensinamentos. Até que encontrou o Camilo, órfão, e que recentemente tinha
perdido seu avô de criação. Camilo é filho de uma Anã, que sempre viveu sob os
olhares penosos das pessoas e era aquela que ouvia as lamúrias das mulheres, já
que elas consideravam que a pequena mulher tinha uma vida pior que a delas. O
autor também nos apresenta a personagem Isaura, chamada de mulher enjeitada,
que estava prometida a um rapaz e acabou se entregando antes do casamento,
gerando uma vergonha para a família. Acontecendo, em seguida, situações totalmente
invasivas para uma mulher, com o único e tolo objetivo de saber se de fato ela
tinha se entregado. O autor fala que Isaura era uma mulher carregada de
silêncios e ausências, que queria descobrir como é ser verdadeiramente amada. Mas
ela acaba sim descobrindo o que de fato é a manifestação do amor. Conhecemos
também Antonino, um homem homossexual, que é apelidado pejorativamente de
“homem maricas” e, por isso, sempre foi rechaçado pela cidade e também pela mãe.
Um homem que todos da vila desejavam a morte e que, segundo sua mãe: “como não tinha pai, não tinha valentia”,
crescendo em torno do preconceito, do desprezo e a negação de si próprio. E,
assim como Isaura, Antonino, não sabia nada sobre o amor. Essas histórias se
encontram, todos com seus fardos e em busca da felicidade. Crisóstomo, com sua
vontade de tornar-se pai, acaba encontrando uma família que se une não pelo
sangue, mas por laços fraternos. E o autor fala sobre isso no seguinte trecho: “Perteciam-se e comunicavam entre si pela
intensidade dos sentimentos. Tinham inventado uma família”. Por fim, a
pergunta que me fiz sobre o porquê do nome escolhido, por que filho de mil
homens? e o autor responde: “Todos
nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade
de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e
se gere um cuidado mútuo”, o que mostra a nossa dificuldade em enxergar o
próximo também como um irmão e que nunca estamos sozinhos, a nossa incapacidade
de cuidar do outro. O autor continua: “Como
se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se
fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta
gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa,
que nunca estaremos sós” e é por isso que somos filhos de mil homens e mil
mulheres, somos os frutos da nossa sociedade e de nossos antepassados. Mas acredito
que a frase que mais que marcou, foi quando Crisóstomo disse para Camilo que
ele “nunca limitasse o amor, nunca por
preconceito algum limitasse o amor”. Em que apesar da sociedade machista e
preconceituosa em que viviam, ainda era possível notar a presença de pessoas a
frente de seu tempo, lembrando a nossa realidade atual, que infelizmente é
carregada de preconceitos e julgamentos para com o próximo.
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